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quarta-feira, 11 de junho de 2008

Quando tu sentires saudade

Quando tu sentires saudade
Não chora,
Lembra.

Quando tu sentires saudade, lembra
das estórias, do cafuné, do beijo,
dos presentes, daquelas férias remotas
e até daquele chiclete velho

Quando tu sentires saudade, lembra
da bronca eventual.
Da mão pesada e do abraço forte,
Da fala leve e das palavras doces

Não te culpa por não lembrares de tudo

Lembra do trivial, do cotidiano
Do “alô” e do “até logo”

Mas nunca do adeus

Lembra da risada, sim?
Não lembra das lágrimas de tristeza

Então não chora, lembra
E ri.
Outra vez e eternamente.


(triste seria não ter o que lembrar)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Sem estresse

Hoje, eu queria escrever um post sobre alguma coisa importante. Ontem, eu li no jornal que vai ter outra daquelas reuniões pra resolver o problema da miséria na África. Li também sobre as armas nucleares do Irã e como toda essa questão tem um quê apocalíptico mais forte do que o desejável. Tem ainda aquela coisa de 47% dos vereadores cariocas serem acusados de algum crime (corrupção, formação de quadrilha, assassinato e cia ltda. - graças a deus!). Talvez, ainda, eu pudesse fazer alguma diferença se comentasse a nova alta da Taxa Selic, a alta de preços dos alimentos, o subsídio do etanol norte-americano, o recrutamento de novos soldados para uma milícia em Taquara; ou falasse um pouco sobre o Paulinho, o Álvaro Lins, o Carlos Lupi, o Edson Lobão, o Picciani.... AHHHHHH!!!!

Acho melhor não, né?

Então, eu decidi ser bucólica e um pouco Mutantes. A letras é ótima, a música é ótima... Dormir hoje à noite e acordar em outra vida, como dizem lá pelo Sujinho, às vezes é tudo o que a gente queria... Uma vida assim:

"Estou aqui sentado no sol
Bicando o céu
Fumando o som
Então, pensei:
por que não viver aqui?
Enquanto a turma de vaqueiros tira o leite...

Eu vejo daqui a nuvem passar
e lá no chão a gramar brotar!
Então, pensei:
por que não viver aqui?
Enquanto a turma de vaqueiros tira o leite...

Tira o lei tira o lei tira o lei tira o leiite

Humm! Cheirinho bom pairando no ar...
Que curtição... Que leite legal!
Então, pensei:
por que não viver aquiii?
Enquanto a turma da cidade dá um duro!
Enquanto a turma da cidade dá um duro!
Enquanto a turma da cidade dá um duro!
Enquanto a turma da cidade dá um duro até as seis..."

Sem estresse, galera... Sem estresse...

(A música é d'Os Mutantes e se chama "Tira o leite". Eu ia colocar aqui, mas não sei como coloca... Se alguém quiser me ensinar, eu agradeço!)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Joanna e o cigarro

Joanna saiu sem isqueiro de casa. Só percebeu isso quando tirou o maço de Carlton vermelho da bolsa e procurou pelo fogo desesperadamente três vezes em todos os nove bolsos de sua calça bag. Quando se convenceu de que de fato havia esquecido o isqueiro em casa, deu um longo suspiro, ergueu a cabeça e pensou “pelo menos não é o cigarro”. Sem dinheiro para comprar até mesmo uma caixa de fósforos na banca de jornal, Joanna ligou o radar que só quem sai de casa sem isqueiro tem para encontrar alguém com fogo para o seu cigarro. Caminhou dois quarteirões inteiros sem avistar uma possibilidade sequer para solucionar o seu problema, dentre as pessoas que caminhavam de um lado pro outro na Visconde de Pirajá. Ninguém fumava naquele domingo. Resolveu andar mais um pouco, afinal, nunca tinha muita gente fumando entre a Aníbal e a Maria Quitéria mesmo. Mais um quarteirão pra frente e nenhum sinal de fumaça. Na Joana Angélica, teve a brilhante idéia de acender seu cigarro com o isqueiro da banca de jornal. Como não tinha pensado nisso até agora? Ao procurar do lado de fora da banca pelo isqueiro e não achar, perguntou, entre os dentes e o cigarro que estava na boca, ao dono da banca: “O senhor tem fogo?”. Ao que ele respondeu secamente: “Não tenho, não.”. Como não tem? Toda banca tem isqueiro. “Tem não, minha filha. Você está enganada. Nenhuma banca tem isqueiro”. Depois desse comentário do jornaleiro, Joanna saiu soltando fogo pelas ventas e amaldiçoando toda a vida útil daquela banca de jornal desprezível e todos os seus seguintes jornaleiros, mesmo não tendo eles nada a ver com a falta de tato do jornaleiro atual. Resolveu seguir para o mar, ali mesmo, na Joana Angélica, para que a brisa refrescasse suas idéias e, é claro, para ver se finalmente conseguia a simples tarefa de acender seu cigarro no calçadão ou na areia. No calçadão, pessoas saudáveis malhavam seus corpos em busca de uma juventude perfeita e de uma velhice tranqüila. Não abordaria ninguém para não correr o risco de levar uma pedra portuguesa na testa. No quiosque, a vendedora lhe dirigiu um olhar de desprezo, quando questionada. Joanna estava pronta para rebater a falta de educação da mulher, quando um cheiro de marola convidativo lhe levou à areia. Ah, alguém usou fogo para queimar isso aí, ah, se usou, pensou ela. Tirou os chinelos e desceu para a areia, usando todo o seu olfato e visão para acabar logo com aquela palhaçada e acender seu cigarro. Rodou por 15 minutos, panturrilhas já doloridas por causa da areia fofa, mas não achou nenhum cigarro aceso. Ou o que quer que fosse, aceso. Que se dane, pensou ela. Vou voltar pra rua, com certeza eu encontro em outra banca de jornal.

E assim fez. Até o final de Ipanema, naquela tarde de domingo, nenhuma banca, nenhum boteco e nenhum estabelecimento possuíam fósforos ou isqueiros.
Joanna, mais desesperada do que nunca, desacreditada daquela situação estranhíssima, mas nunca perdendo a esperança, teve uma idéia: perguntar aleatoriamente às pessoas, mesmo que nenhuma estivesse fumando naquele momento, se, por acaso, quem sabe, talvez, elas não teriam fogo. Mas que idéia infeliz, essa de Joanna, pois todas as pessoas para as quais ela perguntou, sem exceção, deram-lhe uma resposta grosseira na cara. Joanna ouviu treze vezes “Não fumo, não, querida, graças a deus”, quarenta e cinco “Cruz credo, cigarro mata, minha filha” e cento e três vezes “Pára de fumar, menina”. A agressividade dos transeuntes de Ipanema provocou em Joanna, cigarro na orelha, mais raiva ainda, e quase estourando, desistiu, decidindo ir para casa acender lá mesmo.

Quase chegando na esquina da Garcia D`Ávila, o que há um segundo atrás Joanna considerava impossível, aconteceu. Um homem, recostado num prédio de grades, fumava. Joanna correu afobada em direção a ele e, tirando o cigarro da orelha, desatou a falar:
- Ai, graças a Deus encontrei um fumante por aqui. Você acredita que tem duas horas que eu tento acender esse mísero cigarro e não consigo? Esqueci o isqueiro em casa e parece que ninguém mais fuma nesse mundo, é incrível! Além disso, as pessoas me olham estranho quando eu pergunto por fogo, como se eu fosse a única fumante do planeta, como se eu fosse um bicho, uma aberração. Tô falando demais, né? Desculpa, é que eu tô nervosa, o dia hoje foi muito esquisito pra mim, saí pra rua pra dar uma caminhada e só o que eu tenho feito é procurar fogo pra acender meu cigarro. Mas deixa pra lá, finalmente eu te achei, você pode me emprestar teu cigarro pra eu acender??
O homem, que ouviu aquilo tudo calado, agora deu uma tragada longa em seu cigarro de filtro amarelo, jogou a fumaça na cara da moça e falou:
- Que cigarro? Tá me achando com cara de fumante? Eu não fumo não, minha filha, graças a deus! E você devia parar porque isso é veneno, VE-NE-NO!
Joanna se afastou calmamente, virou-se para a rua e, vencida pelo cansaço, respirou fundo o ar da Visconde de Pirajá.

Até que era bom.

Joanna hoje foi engolida pelo movimento anti-tabagista de seu bairro. Agora, em vez de tragar fumaça do cigarro, traga fumaça dos carros de Ipanema.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Os Pseudo-Maluquetes

Hoje, eu fui na PUC colar uns cartazes do Fórum de Mídia Livre e acabei dando com a cara na porta. O departamento de comunicação estava fechado e não se pode colocar nada nos murais sem autorização. Isso é pra gente ver que, mesmo quando a coisa não é pública, os órgãos administrativos fecham antes e abrem depois do que nós gostaríamos.
Enfim... Com a minha falta de sucesso e até de perspectiva para alcançá-lo, eu decidi ir no centro acadêmico dos alunos de comunicação da PUC pra ver se eu conseguia colar cartazes por lá.
Chegando lá, eu vi que a casinha que abriga os alunos extremamente sociáveis do curso estava ocupada com uma gravação de algum tipo de material audiovisual (clipe, filme, curta... Nunca saberei). Desolada, eu olhei ao meu redor e vi um grupo de pessoas conversando animadamente. Decidi interagir (tava de bobeira, né...):
- Vocês fazem comunicação?
A única menina do grupo me respondeu animadamente, apontando todos os coleguinhas que a rodeavam:
- Ele não é, mas ele é, ele é, ele é e eu sou!
Eu fiz uma cara de "tá... O.K." e perguntei se ela não poderia colar os cartazes para mim.
Nesse meio tempo, ela e os amigos começaram a conversar sobre como colar cartazes na PUC. Eu fiquei com cara de nada, afinal o que eu poderia dizer ou expressar facialmente nesse momento?
E eles até que conversaram bastante, fazendo piadinhas meio mongas que se fingem de piadas internas, mas na verdade são só mongas. (Eu não estou super interpretando, tá! Isso realmente acontece com os melhores grupinhos de conversa que interagem com um estranho... Se é que essa categoria um dia já existiu).
Constatando a minha cara de nada, a menina olhou pros coleguinhas e disse:
- Nossa! Ela deve achar que a gente é maluco!

Congela imagem, eu olho pra câmera.

É claro que eu não acho que eles são malucos. Por que será que todo grupinho de conversa se acha maluco perante estranhos? Sempre tem o babaca da rodinha (enormes chances da menina nunca ver este post!) que manda essa, mas é extremamente raro o estrangeiro realmente achar as pessoas malucas.
Todo mundo sabe que, quando a gente pega o bonde andando, seja porque a conversa já estava rolando, seja porque você nunca viu aquela galerinha mais gorda, não entende patavinas do que está sendo dito, ironizado, ou levado a sério; ou, simplesmente, não acha a me-nor graça, porque esse privilégio (o de "estou interessado em tudo o que você diz até que se prove o contrário) a gente só dá pros amigos.
Mas, as pessoas a-do-ram se fazer de malucas! Todo mundo se amarra em ser "meio maluquete", como já dizia (na verdade, ainda diz) a minha mãe, bacaninha que só ela. Elas fingem se revoltar, fingem se fingirem de completamente normais... mas a verdade é que todo mundo sabe o que está acontecendo e é de praxe fazer o que eu fiz:

Descongela a imagem, eu olho pra galerinha. Ergo as sobrancelhas e "concordo"com a menina. Ela ri, todos sorriem e voltam felizes pra casa.

Ahhh... Como somos seres humanos originais!

domingo, 1 de junho de 2008

Sobre a independência da mídia ou a mídia da independência

Na madrugada dessa sexta-feira, eu estava numa festa do IFCS (Instituto de Filosofia e Ciência Sociais da UFRJ) e conheci um membro da equipe que faz o site do Centro de Mídia Independente do Brasil. Achei o projeto muito interessante e, como eu nunca tinha ouvido falar pedi pra ele me explicar como funcionava.

Qualquer um pode publicar no site. Você não precisa nem se identificar. O que existe é uma política editorial que basicamente permite que o coletivo editorial do site esconda artigos indesejados, que firam os interesses dos organizadores. Esses artigos podem ser lidos numa parte do site que se chama "Artigos Escondidos", mais conhecida como "Lixo Aberto".

O que são (mais ou menos) os artigos indesejados: bobagens completas (xingamentos e piadas de mal gosto), repetidos, mensagens de contato com os membros do coletivo editorial, textos preconceituosos (homofóbicos, sexistas, racistas, fascistas etc), textos de cunho religioso, ameaças a grupos específicos, divulgações comerciais e, finalmente, textos que sejam contra a política editorial anticapitalista. Isso aqui é um resumo do que está escrito na página. Para quem ficou interessado, ou pelo menos curioso, é legal visitar o site.

De início eu não gostei disso. Para mim, tudo tinha que ser publicado. Não importa o que se escreva, se é independente, não depende de nada - nem de política editorial, certo? Por que esconder os artigos, então?

O cara com quem eu conversei, o muito simpático Marcelo, me disse que eles enfrentam muito processos por causa desses artigos. Existem pessoas que publicam textos obviamente homofóbicos, por exemplo, e depois processam o site por homofobia. A equipe do CMI, a partir do momento em que permite que todos publiquem, tem que se responsabilizar por tudo o que consta na sua página.

Ele disse que a equipe gasta muito dinheiro com esses processos e que é muito difícil se defender de um processo que te acusa de homofóbico quando você não é. Na verdade, você acaba lutando, sob várias formas grotescas, pela liberdade de expressão. É uma ótima causa, mas, por seus custos, pode inviabilizar o projeto. Colocando na balança, é melhor ficar com os artigos escondidos e enfrentar menos processos.

O CMI enfrenta também outros processos, quando publica textos, digamos, polêmicos. Defende a voz dos movimentos sociais, de minorias diversas e dos que dizem aquilo que todos deveriam saber, mas não sabem para que certas pessoas possam dormir em paz em seus lençóis de algodão egípcio.

Muito bom! É uma grande e perigosa luta que ótimas pessoas estão dispostas a lutar.

Agora... Vamos pensar.

O CMI é mídia independente?

Ou é mídia alternativa?

Eu discuti muito com o Marcelo sobre isso. Eu acho o projeto de um valor invalorável, no entanto não acho que possa ser chamado de independente. Se depende de alguma coisa, não é independente. O que eles fazem ali, na minha humilde opinião, é mídia alternativa, ou seja, mídia que não é grande mídia, que não está ligada aos interesses que normalmente prevalecem na ordem de praticamente todas as coisas, na ordem capitalista das coisas.

Não existe mídia independente, assim como não existe ser-humano independente. Existe, sim, a mídia que tenta mostrar diversidade de pensamento. Existe, de repente, permitir que as pessoas escolham o que querem ler, ver e ouvir. Conceder o poder de escolha ao leitor/espectador/ouvinte é o máximo que um meio de comunicação pode fazer. Não é?

Contudo, as pessoas normalmente têm preguiça de escolher suas informações. É mais fácil comprar seu jornalzinho todo dia e simplesmente acreditar que os editores dele fizeram ótimas escolhas de verdades a serem acolhidas por você.

É muito chato aquele negócio de ter que escolher entre o Obama e a Hillary. As pessoas querem mais é que o jornal escolha pra elas. Tem gente que nem entende qual é a diferença entre escolher e ser escolhido, e a vida é tão difícil que é mais fácil não saber. As pessoas “lavam suas mãos” e “seja o que Deus quiser”.

Acontece que os grandes jornais estão ligados às grandes empresas (por causa de anúncios etc.) e todos os grandes têm interesses específicos que muitas vezes vão exatamente contra os dos pequenos que, inevitavelmente e quase que por definição, são maioria. Então, o jornalzinho acaba publicando apenas aquilo que você pode saber sem ferir os interesses dos grandes, para que exista algum tipo de ordem. E a ordem é quase sempre prejudicial a algum grupo.

Seria muito complicado que todos soubessem que os rios, lagoas e praias do Rio são sujos porque alguns prédios de classe média, para economizar, em vez de ligarem os canos de esgoto ao esgoto, ligam ao sistema de escoamento pluvial. A água da chuva, que não é tão suja, vai para as lagoas, rios e mares e junto com ela vai o excremento de várias pessoas que ignoram o destino de suas fezes porque confiaram nas escolhas dos empresários que as representam. Por exemplo.

Existem muitas pessoas que não gostam dessa imposição de interesses tão subliminar. O que elas fazem? O CMI, por exemplo.

Só que aí, por repúdio ou mágoa desses grandes que tanto escondem dos pequenos, ou ainda por outras inúmeras razões que eu nem sei citar, as pessoas que não gostam da ordem impositiva das coisas acabam por esconder informação e opinião que estejam confortáveis nela. Ou seja, acabam fazendo escolhas pelos seus leitores/espectadores/ouvintes.

Não que eu concorde com o Olavo de Carvalho, ou com o Mino Carta, mas ambos merecem ser ouvidos e, assim, escolhidos.

Quem dera se um meio de comunicação pudesse juntar opiniões diversas sem ser processado, crucificado, humilhado e cuspido. Assim, seria possível que se questionasse tudo e todos para que possamos entender por que tanta gente usa calça legging e por que quem não usa muitas vezes gostaria de ir pra Cuba.