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domingo, 1 de junho de 2008

Sobre a independência da mídia ou a mídia da independência

Na madrugada dessa sexta-feira, eu estava numa festa do IFCS (Instituto de Filosofia e Ciência Sociais da UFRJ) e conheci um membro da equipe que faz o site do Centro de Mídia Independente do Brasil. Achei o projeto muito interessante e, como eu nunca tinha ouvido falar pedi pra ele me explicar como funcionava.

Qualquer um pode publicar no site. Você não precisa nem se identificar. O que existe é uma política editorial que basicamente permite que o coletivo editorial do site esconda artigos indesejados, que firam os interesses dos organizadores. Esses artigos podem ser lidos numa parte do site que se chama "Artigos Escondidos", mais conhecida como "Lixo Aberto".

O que são (mais ou menos) os artigos indesejados: bobagens completas (xingamentos e piadas de mal gosto), repetidos, mensagens de contato com os membros do coletivo editorial, textos preconceituosos (homofóbicos, sexistas, racistas, fascistas etc), textos de cunho religioso, ameaças a grupos específicos, divulgações comerciais e, finalmente, textos que sejam contra a política editorial anticapitalista. Isso aqui é um resumo do que está escrito na página. Para quem ficou interessado, ou pelo menos curioso, é legal visitar o site.

De início eu não gostei disso. Para mim, tudo tinha que ser publicado. Não importa o que se escreva, se é independente, não depende de nada - nem de política editorial, certo? Por que esconder os artigos, então?

O cara com quem eu conversei, o muito simpático Marcelo, me disse que eles enfrentam muito processos por causa desses artigos. Existem pessoas que publicam textos obviamente homofóbicos, por exemplo, e depois processam o site por homofobia. A equipe do CMI, a partir do momento em que permite que todos publiquem, tem que se responsabilizar por tudo o que consta na sua página.

Ele disse que a equipe gasta muito dinheiro com esses processos e que é muito difícil se defender de um processo que te acusa de homofóbico quando você não é. Na verdade, você acaba lutando, sob várias formas grotescas, pela liberdade de expressão. É uma ótima causa, mas, por seus custos, pode inviabilizar o projeto. Colocando na balança, é melhor ficar com os artigos escondidos e enfrentar menos processos.

O CMI enfrenta também outros processos, quando publica textos, digamos, polêmicos. Defende a voz dos movimentos sociais, de minorias diversas e dos que dizem aquilo que todos deveriam saber, mas não sabem para que certas pessoas possam dormir em paz em seus lençóis de algodão egípcio.

Muito bom! É uma grande e perigosa luta que ótimas pessoas estão dispostas a lutar.

Agora... Vamos pensar.

O CMI é mídia independente?

Ou é mídia alternativa?

Eu discuti muito com o Marcelo sobre isso. Eu acho o projeto de um valor invalorável, no entanto não acho que possa ser chamado de independente. Se depende de alguma coisa, não é independente. O que eles fazem ali, na minha humilde opinião, é mídia alternativa, ou seja, mídia que não é grande mídia, que não está ligada aos interesses que normalmente prevalecem na ordem de praticamente todas as coisas, na ordem capitalista das coisas.

Não existe mídia independente, assim como não existe ser-humano independente. Existe, sim, a mídia que tenta mostrar diversidade de pensamento. Existe, de repente, permitir que as pessoas escolham o que querem ler, ver e ouvir. Conceder o poder de escolha ao leitor/espectador/ouvinte é o máximo que um meio de comunicação pode fazer. Não é?

Contudo, as pessoas normalmente têm preguiça de escolher suas informações. É mais fácil comprar seu jornalzinho todo dia e simplesmente acreditar que os editores dele fizeram ótimas escolhas de verdades a serem acolhidas por você.

É muito chato aquele negócio de ter que escolher entre o Obama e a Hillary. As pessoas querem mais é que o jornal escolha pra elas. Tem gente que nem entende qual é a diferença entre escolher e ser escolhido, e a vida é tão difícil que é mais fácil não saber. As pessoas “lavam suas mãos” e “seja o que Deus quiser”.

Acontece que os grandes jornais estão ligados às grandes empresas (por causa de anúncios etc.) e todos os grandes têm interesses específicos que muitas vezes vão exatamente contra os dos pequenos que, inevitavelmente e quase que por definição, são maioria. Então, o jornalzinho acaba publicando apenas aquilo que você pode saber sem ferir os interesses dos grandes, para que exista algum tipo de ordem. E a ordem é quase sempre prejudicial a algum grupo.

Seria muito complicado que todos soubessem que os rios, lagoas e praias do Rio são sujos porque alguns prédios de classe média, para economizar, em vez de ligarem os canos de esgoto ao esgoto, ligam ao sistema de escoamento pluvial. A água da chuva, que não é tão suja, vai para as lagoas, rios e mares e junto com ela vai o excremento de várias pessoas que ignoram o destino de suas fezes porque confiaram nas escolhas dos empresários que as representam. Por exemplo.

Existem muitas pessoas que não gostam dessa imposição de interesses tão subliminar. O que elas fazem? O CMI, por exemplo.

Só que aí, por repúdio ou mágoa desses grandes que tanto escondem dos pequenos, ou ainda por outras inúmeras razões que eu nem sei citar, as pessoas que não gostam da ordem impositiva das coisas acabam por esconder informação e opinião que estejam confortáveis nela. Ou seja, acabam fazendo escolhas pelos seus leitores/espectadores/ouvintes.

Não que eu concorde com o Olavo de Carvalho, ou com o Mino Carta, mas ambos merecem ser ouvidos e, assim, escolhidos.

Quem dera se um meio de comunicação pudesse juntar opiniões diversas sem ser processado, crucificado, humilhado e cuspido. Assim, seria possível que se questionasse tudo e todos para que possamos entender por que tanta gente usa calça legging e por que quem não usa muitas vezes gostaria de ir pra Cuba.

2 comentários:

Gal disse...

"Assim, seria possível que se questionasse tudo e todos para que possamos entender por que tanta gente usa calça legging e por que quem não usa muitas vezes gostaria de ir pra Cuba."

tá falando de mim?
hahuiahauihauihauiahuiahauihauia

luizayabrudi disse...

VIVA LA REVOLUCIÓN!!!